quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sobre o Acidente do Senna


Projetista da Red Bull, que há três temporadas tem o melhor carro da Fómula-1, o inglês Adrian Newey confessou em entrevista ao jornal The Guardian que esteve muito próximo de abandonar o automobilismo, após o acidente fatal de Ayrton Senna, em Imola, em 1994. Newey foi quem desenhou a Williams onde morreu o tricampeão brasileiro e até hoje o acidente lhe tira o sono.
- O pouco cabelo que eu tinha, na época, caiu após aquilo. Foi terrível. Algo que me modificou fisicamente. Eu e Patrick Head (diretor técnico da escuderia) chegamos a nos perguntar várias vezes se valia a pena continuar. Pensei seriamente em desistir e largar tudo. Questionava se valia a pena seguir num esporte no qual alguém podia morrer numa máquina que eu criara. E me perguntava se o acidente tinha sido por alguma quebra causada por negligência ou por um design mal-feito. E, no meio disso tudo, começou o julgamento do caso, na Itália - desabafou.
Embora considerasse todo o processo judicial "deprimente" (ele e Head eram acusados de homicídio culposo), Newey lembra que os dias mais difíceis foram os que se seguiram ao desastre:
- Recordo-me que no dia seguinte era um feriado e muitos de nós, da equipe, fomos trabalhar, para tentar descobrir o que houve. Fizemos exaustiva busca nos dados da telemetria e admito que, mesmo assim, até hoje não temos condições de dizer exatamente o que houve. Ninguém tem. Que a barra de direção quebrou, não há dúvida. Mas será que se partiu antes, causando o acidente, ou foi na hora do impacto no muro? É verdade que tinha rachaduras de fadiga, causados pelo design pobre (a barra de direção foi "afinada" a pedido do próprio Senna, que se sentia incomodado por ela, dentro do cockpit) e que se quebraria em algum momento, mas todas as evidências indicam que a saída da pista não foi causada por isso.
O mais festejado projetista da F-1 nos dias de hoje revela que nos últimos 17 anos inúmeras vezes já pensou sobre a batida e o que pode tê-la causado:
- Se você olha as imagens, principalmente aquelas que foram tomadas da câmera on board de Michael Schumacher (que vinha imediatamente atrás de Senna) percebe que o carro não sai de frente, mas de traseira, o que é incompatível com uma quebra da coluna de direção. Ayrton ainda diminui 50% a aceleração, o que é consistente quando se tentar corrigir uma saída de traseira (isso tudo é revelado pela telemetria) e somente meio segundo depois pisa forte nos freios. A questão então é por que a traseira saiu assim, de repente? O fundo do carro batia na pista com muita intensidade na segunda volta e, de novo, isso parece pouco usual porque a esta altura os pneus já estariam com a pressão adequadas -- o que nos deixa com a 
opção de que o pneu traseiro direito provavelmente furou ao passar sobre detritos na pista. Se eu fosse forçado a escolher uma única causa, a mais provável, para o acidente, seria esta.
Esse é, entretanto, um mistério que jamais será completamente resolvido. E, por isso mesmo, ainda assombra Adrian Newey. Incapaz de esquecer aquele trágico primeiro de maio de 1994. Uma cicatriz que nem mesmo as 119 vitórias de seus carros, seus sete títulos mundias de construtores e seis títulos mundias de pilotos será capaz de apagar da memória deste genial projetista de 52 anos. A ponto de ele admitir que não quis nem passar perto dos cinemas que exibiam o recente documentário sobre Ayrton Senna:
- Seria algo muito difícil pra mim - admite ao final da entrevsita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário